Quando se fala em “doença psicossomática” estamos falando de um problema que supostamente começa no nível “psicológico” e acaba se manifestando no nível físico, ou seja, no soma (corpo). Assim, quando o problema se manifesta no corpo, é chamado de sintoma, que consiste na solução precária que o corpo (quando falo corpo aqui, refiro-me à totalidade do nosso EGO) encontrou para o problema. Assim, o indivíduo pode apresentar desde algum distúrbio emocional, que lhe impede de se sentir bem, até um problema de saúde física (aliás, todas essas manifestações vão alterar a fisiologia). Assim, não se deve procurar simplesmente eliminar o sintoma por qualquer meio que seja e sim buscar o problema e encontrar uma solução que não seja doentia. Para isso, usando a metáfora que mencionei no artigo anterior, é necessário olhar para o lado esquerdo da tela, ou seja, o que aparece no “passado” (que, como já vimos, está “presente”) – e aí, invariavelmente, encontramos uma situação que está ainda sem uma solução adequada. Eis que, na primeira metade do século passado, surge um judeu alemão conhecido como Fritz Perls, o qual, influenciado pela Filosofia Gestalt alemã, enfatiza o aqui e agora onde ocorrem todos os fenômenos – a Gestalt se origina da Fenomenologia, segunda a qual o que importa é olhar as coisas como elas são, sem questionar o porquê.
O QUE IMPORTA É OLHAR AS COISAS COMO ELAS SÃO, sem questionar o porquê.
Assim, voltando a uma situação não resolvida, ela é chamada de Gestalt aberta, que se manifesta no sintoma, exigindo uma solução, quando então será considerada uma Gestalt fechada. Surge então, nos Estados Unidos, um rapaz de uma família presbiteriana, que se submetia a sessões de terapia com uma terapeuta da abordagem Gestalt. No decorrer desse trabalho, levou para a sua sessão um sonho que tivera, onde se viu morrendo afogado no mar. A terapeuta, usando a técnica Gestalt, pediu que ele vivenciasse o sonho como se estivesse acontecendo aqui e agora. O sonho ganhou intensidade e surgiram mais detalhes, onde o rapaz se viu vítima do naufrágio.
Muitos dos colegas que estavam presentes no seminário do Dr. Netherton professavam a doutrina espírita, já que o evento aconteceu na AMESP (Associação Médico Espírita de São Paulo), porém esse não era o meu caso, bem como de mais alguns colegas. Nem o Dr. Netherton associa seu trabalho a qualquer doutrina religiosa. O fato é que o trabalho de “regressão” traz à tona situações que cronologicamente aconteceram no passado, porém continuam presentes por estarem aguardando uma solução. As Gestalten (plural em alemão do termo Gestalt) são como se fossem círculos incompletos, exigindo serem completados. Assim, no meu trabalho, sempre me ative ao processo em si, sem nenhumaintenção doutrinária. A muitos céticos eu dizia: vamos tratar do material que emerge do seu inconsciente, sem questionar como esse material entrou lá. A sensação dos indivíduos, na maioria das vezes é de que eles realmente viveram aquelas vidas passadas.
Eu também pensava assim. Ultimamente, porém, aprendendo sobre outras abordagens (e uma delas muito importante é o trabalho de Constelações Familiares e Sistêmicas), questiono se esse material emergente, que a partir do lado esquerdo da tela, contamina o presente com os círculos incompletos, (ou seja, problemas ainda não solucionados) tem a ver exclusivamente com o indivíduo afetado ou com a humanidade como um todo. Surgem aí então os textos do Apóstolo Paulo, que afirma que todos somos um só corpo e os seus textos, que antes eu via como metáforas místicas, ganham uma enorme riqueza com o surgimento da Física Quântica, que afirma que nenhum átomo do universo está separado de todos os outros!
Assim, os átomos que constituem o nosso corpo são compartilhados com todos os outros e o que ocorre a um átomo repercute em todos os outros. Isso ficará mais esclarecido quando eu falar do trabalho de Constelações Sistêmicas, onde essas conexões do indivíduo com o todo ficam evidentes quando são abordados, principalmente, problemas que vem de gerações anteriores de uma mesma família e que repercutem AGORA na vida do indivíduo que recorre a esse tipo de trabalho. Eu gostaria de abrir um parêntesis para mencionar um fato: uma certa vez, durante uma sessão de terapia, um cliente quis tomar água e, olhando para uma jarra, perguntou “essa água é de hoje ?” e eu respondi “não, ela existe desde o primeiro instante da criação”. Eu gostaria de abrir um parêntesis para mencionar um fato: uma certa vez, durante uma sessão de terapia, um cliente quis tomar água e, olhando para uma jarra, perguntou “essa água é de hoje ?” e eu respondi “não, ela existe desde o primeiro instante da criação”.
Assim como a água, nós respiramos o mesmo ar desde que ele surgiu e já foi e é respirado por tudo o que existe e por todos os seres que nos antecederam, inocentes ou “pecadores” ! – faço questão de colocar essa última palavra entre aspas.